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Segunda-feira, 06 DE Dezembro DE 2010

Rio Tinto (Tintopia), Paraíso ou Deserto

Rio Tinto

 

A velha Estação de Comboios, lugar de saudades e de aventuras, entre partidas e chegadas

 

A velha igreja e os seus rituais, encontros e... amores

 

O rio "Tinto", que já aqui corria antes das primeiras pessoas habitarem a povoação a que se chamou Rio Tinto

 

Um Rio entubado, desprezado, apertado e poluído pela indiferença dos que ignoram a nossa maior riqueza natural

 

O Shopping Parque Nascente, símbolo do reinado do consumismo e do betão

 

Betão, cimento e mais betão e cimento

 

Prédios ao alto

 

Rio Tinto, erguida cidade dormitório entalada entre paredes de cimento

 

E no entanto o Rio continua a correr contra todos os obstáculos, da nascente...

 

Em direcção à foz

 

Ainda há muito percorrer na transição de Rio Tinto rumo à sustentável reconciliação com a natureza

 

Mas há quem esteja disposto a percorrer essa caminhada (como nesta iniciativa de defesa do rio "Tinto")

 

Estas couves tão sozinhas pedem a companhia de tomates, cenouras, abóboras e quem mais quiser juntar-se à festa.

 

Porque a esperança, a transição, a permacultura e afins consistem em... semear!

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publicado por Rojo às 17:33
Quinta-feira, 26 DE Fevereiro DE 2009

Cimeira Luso-Espanhola: mais infraestruturas, menos meio ambiente

Ecologistas en Acción; 21 de Janeiro de 2009

 

Por ocasião da realização em Zamora da XXIV Cimeira Luso-Espanhola, a organização espanhola Ecologistas en Acción manifesta a sua oposição às novas infraestruturas de transporte previstas entre ambos os países e reclama a criação do Parque Natural Internacional do Bajo-Baixo Guadiana, apoiando, para além disso, o manifesto feito pelos movimentos sociais da região, a favor do acondicionamento e a reabertura do Comboio da Via da Prata.

 

Perante o início da XXIV Cimeira Luso-Espanhola, Ecologistas en Acción insta os Governos de ambos os países a que encaminhem os seus esforços de cooperação e coordenação pela sustentabilidade, em vez de utilizar estas cimeiras para potenciar algumas das actividades mais destrutivas do território, neste caso as infraestruturas de transporte.

Em relação ao processo de ratificação do Tratado de Lisboa, que se abordará durante esta cimeira, Ecologistas en Acción reitera a sua rotunda oposição ao Tratado de Lisboa por constituir uma das grandes ameaças à democracia, à justiça, à paz e ao equilíbrio ecológico.

 

Para além disso, está a ser ratificado pelas elites sem consulta à população. Este tratado reforça uma Europa neoliberal, aumenta a militarização, a exclusão, as desigualdades e a mercantilização, assim como endurece as políticas de segurança repressiva. Isso reflecte-se num aumento da precariedade, num ataque generalizado a todos os direitos sociais, em particular às conquistas laborais.

 

Ecologistas en Acción exige o respeito pelo NÃO irlandês e exige aos governos que convoquem – por decência democrática – referendos nacionais sobre este tratado. As propostas dos dois governos e da UE para gerir a crescente crise económica, outro dos temas principais da reunião em Zamora, não dão atenção a outras dimensões do mesmo fenómeno que estamos a enfrentar hoje – justiça global, alimentação, clima e energia – nem à necessidade de transformar o sistema económico noutro que decresça com critérios de equidade, que nos permita satisfazer as necessidades básicas das pessoas, realizar todos os direitos humanos e restaurar e preservar a base ecológica da vida no nosso planeta.

 

Ecologistas en Acción reitera a sua oposição à construção de novas infraestruturas de transporte entre Espanha e Portugal, especialmente a A-11 e as linhas de comboio de alta velocidade (Vigo-Porto e Madrid-Lisboa), dado que provocam graves consequências ambientais e sociais, uma vez que implicam um esbanjamento económico que não serve os interesses da maioria da população. Pelo contrário, Ecologistas en Acción defende a melhoria da rede ferroviária existente, que permita velocidades competitivas com o automóvel; um aumento dos serviços e a sua adequação às necessidades dos cidadãos (frequência, comodidade, etc.). Assim, a organização ecologista junta-se ao pedido das organizações locais e regionais, de acondicionamento e reabertura do Comboio da Via da Prata, que está há 24 anos encerrado. Este comboio geraria importantes benefícios sociais e ambientais:

 

- Revitalizaria as províncias de León, Zamora e Salamanca e todas as populações por onde passa (Astorga, La Bañeza, Benavente, Zamora, Salamanca, Béjar, Plasencia, etc.) dado que este comboio oferece enormes vantagens como: importantes reduções de tempo, poupança de energia, benefícios para as empresas e para o meio ambiente, gerando as condições favoráveis para o desenvolvimento do turismo e da indústria, e isso proporcionaria trabalho para os jovens, que não teriam de ir para fora.

 

- Descongestionaria o denso tráfego por estrada e aumentaria o tráfego de mercadorias para o sul e para o norte, aliviando outras zonas do país.

 

- Tendo em conta os problemas das alterações climáticas e da crise energética, é necessário fomentar o uso do transporte público eficiente em substituição de outros mais nocivos, reduzindo dessa forma a emissão de gases contaminantes tal e como indicam os protocolos internacionais.

- Facilitaria o contacto das localidades próximas à infraestrutura com outras zonas, facilitando assim o desenvolvimento cultural e fixando população nos ditos municípios carentes de algum futuro actualmente.

 

Ecologistas en Acción reclama responsabilidade ambiental e social aos mandatários de Espanha e Portugal, pedindo que se abandonem projectos insustentáveis e se assumam outros de valores altamente positivos, o comboio da Via da Prata ou a criação do Parque Natural Internacional do Bajo-Baixo Guadiana, para proteger os valores naturais e culturais de uma região que alberga uma das áreas fluviais de estuário melhor conservadas da Península Ibérica, e para travar o avanço dos interesses urbanísticos especuladores.

Sobre o anúncio de ampliar os dispositivos da FRONTEX no Atlântico para intercâmbio de informação operativa sobre fluxos migratórios de países africanos, Ecologistas en Acción reitera o seu firme repúdio às políticas migratórias da UE, que militarizam as fronteiras e são responsáveis pela morte de milhares de pessoas todos os anos ao tentarem entrar na UE. Por isso exige-se o desmantelamento do Frontex e a revogação da directiva de retorno da UE.

 
publicado por Rojo às 17:33
Quinta-feira, 26 DE Fevereiro DE 2009

A Evolução do Ser Humano: da propriedade à sociedade, da energia ao meio ambiente

Podemos dividir toda a história humana até hoje em 3 grandes fases:

 

- O Homem Caçador-Colector

- O Homem Agrícola

- O Homem Industrial

 

Dentro destas fases existem evidentemente sub-fases, ao analisarmos por exemplo a estrutura de classes mais recente (dentro da era Industrial em que estamos) poderíamos revelar o Homem Financeiro (que está hoje na ordem do dia) e o Homem Tecnológico (que nunca foi muito mais do que uma ilusão cultural).

 

O Homem das Cavernas

 

Segundo os cientistas, a caça e a colecta de plantas como forma de subsistência do ser humano durou mais de 2 milhões de anos da história humana. Ao princípio a Humanidade, na fase do Caçador-Colector, não possuía estrutura de classes, isto acontecia porque a propriedade era vista como comum. A natureza era a fonte de recursos que era partilhada por todos. Mas não se tratava propriamente de um paraíso, quando os recursos eram escassos os humanos poderiam lutar até à morte inclusive. É também certo que haveriam lutas sangrentas quando dois homens escolhiam a mesma mulher para acasalar. No entanto essa violência era apenas ocasional e não sistemática.

 

 

A energia foi descoberta primeiramente pelo Caçador-Colector sobre a forma de fogo, que era usada como protecção, arma de caça ou para cozinhar alimentos. Mas o seu uso era perfeitamente integrado no que poderíamos chamar "a ordem natural das coisas" - que neste contexto significa o enquadramento com as normas que regem os ecossistemas terrestres.

 

O registo mais antigo do Homem moderno que é o Homo Sapiens Sapiens é de há 130.000 anos atrás, o antepassado Neandertal do Homo Sapiens extinguiu-se há 30.000 anos. Antes portanto da Era Agrícola. O Homo Sapiens, dizem os cientistas, é produto de uma longa evolução humana (que segundo Darwin descendeu dos símios).

 

Em esquema: o Homem não domina a Natureza, mas antes colhe dela o que precisa para existir.

 

O Feudalismo

 

Há pelo menos 10.000 anos atrás (8000 A.C.) a Agricultura começou a ser desenvolvida. Inicialmente ela começou por ser um método de "enterrar sementes" por parte dos Caçadores-Colectores de modo a poderem evitar a vida de nómadas e acomodar-se numa região menos vasta. No início era apenas uma inovação por comodidade mas com o tempo tornou se no pilar do que chamamos "civilização" - uma sociedade humana organizada e complexa que transcende as relações sociais consideradas de "primitivas" do Caçador-Colector (tais como de "tribo", de "clã", etc., mais ou menos parecidas com as do restante mundo animal).

 

 

Da nova "civilização agrícola" nasceu um sistema económico de dominação de uma elite de humanos sobre a maioria dos humanos (designados como a "plebe", os "servos, os "escravos", etc.). E do sistema económico Feudal nasceram sistemas políticos, como Monarquias, Impérios e até os primeiros esboços (embora tímidos e em curtos períodos) de República e Democracia reservados a um uso exclusivo das elites e com o tempo incorporando algum poder de voto a sectores de classes intermédias.

 

A energia que alimentou o Homem Agrícola foi usada pelas elites feudais para cimentar e expandir o seu poder. Essa energia eram em primeiro lugar os grãos de cereais que aumentavam a força muscular humana e as outras capacidades físicas humanas, mas também o gado, o peixe, o vinho, hortaliças e frutas que desenvolveram as capacidades do ser humano. Esse ser humano reforçado, mais forte e capaz era usado pela elite feudal para fazer guerras que colocavam estas elites de nações (ancoradas por norma num regime monárquico ou imperial) umas contra as outras em busca de acumular mais e mais recursos e riquezas, que por sua vez serviam para fortalecer o controle das elites sobre a sociedade e os seus estilos de vida luxuosos.

 

A escravatura foi se tornando mais e mais comum nos regimes feudais à medida que estes cresceram em controle de vastos territórios e em poder militar. Um destes regimes que serve como paradigma da sociedade com classes até hoje foi o Império Romano.

 

 

Eu creio que se pode afirmar que quase todas as nações da Era do Homem Agrícola evoluíram ou tentaram evoluir para um Império ou pelo menos se pode dizer que durante esses milénios anteriores à Era Industrial a principal medida de sucesso de uma sociedade era a extensão imperial, ou seja, a conquista de novos territórios (incluindo recursos naturais e povos subjugados pelo domínio de Elites imperiais).

 

 

O Império Romano serviu para dominar toda a Europa e partes da África, da Ásia e do Leste Europeu. O Império Romano entrou em colapso, mas logo apareceram novos herdeiros continuadores. Na chamada "idade média" diversos países - entre os quais se destacam Portugal, Espanha, Inglaterra, França e Holanda - se ergueram para dominar imperialmente o chamado "Novo Mundo" (todas as Américas, do Sul, Central, Caraíbas e do Norte), toda a África e partes da Ásia. A religião católica, as formas de organização política e o expansionismo militar foram incorporadas pelas nações surgidas da desagregação do Império Romano.

 

Na Europa, no período pós-romano, o Clero tornou-se uma poderosa classe dominante associada à Nobreza e à Família Real (todos os últimos dominando o Exército Real que desenvolvia a expansão imperial). A religião hierarquizada servia de controle social e cultural facilitando o trabalho de dominação dos seus sócios imperiais monárquicos e afins.

 

Existiram muitos e imensos Impérios na Era Agrícola, como a Dinastia Omíada (o maior Império dos Califas, árabes islâmicos), o Império do Mongol, o Império Russo, o Império Otomano, os Impérios de Espanha e Portugal, o Império Britânico (que teve uma origem anterior à Revolução Industrial) e outros.

 

As contínuas guerras imperiais criaram novas necessidades de refinamento de armas e estratégias bélicas. Assim surgiram os artesãos. Da necessidade de extrair um maior proveito da espoliação imperial surgiu o comércio e a ascendente burguesia mercantil. E destes reordenamentos de classes surgiram as condições para acabar com as monarquias absolutistas e depois com as liberais, ambas cobertas de sinais de decadência imperial. O comércio, aparentemente, havia se tornado uma forma de dominação mais poderosa do que a força bélica.

 

 

Em esquema: o Homem domina a Natureza, a Elite usa o Homem reforçado para consolidar e expandir o seu poder sobre a Natureza e sobre o próprio Homem.

 

A Era Industrial dos Combustíveis Fósseis

 

A Revolução Industrial vem trazer a base de sustentação económica da expansão do domínio burguês - a nova classe dominante pós-feudal - até estender-se a todo o mundo, fundamentalmente a partir do Século XIX. As origens da Revolução Industrial surgem no alvorecer do Século XVIII com a invenção da Máquina a Vapor que transforma o Carvão numa fonte energética (muito abundante até aos dias de hoje) dinamizadora da criação de vastas indústrias.

 

O advento da Indústria enfraquece e domina o anterior pilar de domínio que era a Agricultura. Os senhores feudais são subordinados à força da burguesia, rebaptizada de capital. A necessidade de subordinar as anteriores classes dominates levou a Burguesia a, inicialmente, adoptar uma postura laica e anti-clerical. Isso deu liberdade a proeminentes intelectuais burgueses enveredarem por ideiais nitidamente progressistas, algo que a Burguesia não permitira que fosse muito longe. Não tardou pois então que a Burguesia perseguisse os seus próprios defensores intelectuais.

 

A Máquina (refiro-me às máquinas em geral) tornou-se uma nova fonte de riqueza aparentemente infindável e foi se esquecendo com o  tempo o facto elementar que a Máquina não seria mais que uma carcaça vazia se não fosse alimentada por abundantes Combustíveis Fóssseis - por natureza finitos. Ela estendeu o seu poder a todos os sectores de actividade, com a mecanização da Agricultura, por exemplo, submetendo os seus anteriores rivais da manufactura (como o nome indica, falo do trabalho braçal humano).

 

A mecanização das actividades humanas foi pavimentando o poder da Burguesia, cimentando o seu controle sobre a sociedade, fortalecendo a sua estrutura económica, transformando o regime político ao sabor de seus interesses e penetrando na própria cultura humana para moldar o pensamento e os sonhos das classes exploradas ou dominadas.

 

A partir do fulgor inicial das ideias progressistas da Revolução Francesa e da precepção que a nova prosperidade mecanizada daria riqueza suficiente para acomodar um conforto material a toda a sociedade, incluindo a classe exploradora (Burguesia) e a explorada (Trabalhadores) surgiram revoltas de Trabalhadores e de Povos que levaram a cedências sem precendentes na história humana das elites às classes dominadas. A publicação do "Manifesto do Partido Comunista" em 1848, a Revolução de Outubro de 1917 e as subsequentes, os julgamentos de Nuremberga entre outros efeitos da Segunga Guerra Mundial, o advento da Organização das Nações Unidas em 1945, a Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948, entre outros acontecimentos - particularmente entre esse período de 1850 a 1950 - elevaram os direitos, liberdades e garantias das classes exploradas mas fizeram também subir as suas expectativas.

 

Uma vez que o controle coercivo por parte das elites sobre as sociedades foi relaxado com as conquistas sociais dos explorados (a democratização generalizada, aumentos dos níveis de vida, de saúde, etc.) a atenção do Homem Industrial virou-se para o consumo de produtos como forma de atingir o bem-estar. O Capitalismo esforçou-se por convencer e conseguiu convencer grande parte da humanidade a enveredar por este estilo de vida - o consumo crescente de produtos como um modo de vida, a identificação do consumidor com o produto, etc.

 

Em esquema: o Homem domina a Natureza, a Elite usa o Homem reforçado para alimentar a Máquina, a Máquina domina o Homem e com o tempo a própria Elite.

 

O Futuro

 

Todos os principais combustíveis fósseis estão, segundo os cientistas, prestes a esgotar durante o actual Século XXI, a manterem-se as actuais taxas de consumo.

 

O mesmo se poderá aplicar a todo o tipo de matérias-primas, incluindo as tão vitais como a Água e o Solo Cultivável, mais cedo ou mais tarde, se se continuar com os actuais ritmos insustentáveis de consumismo, produtivismo e destruição ambiental.

 

Vivemos num mundo finito, temos de nos habituar a essa ideia.

 

Em esquema: a Natureza mostra os seus limites e primeiro a Máquina, depois a Elite e depois o Homem entram em Colapso.

publicado por Rojo às 02:00
Quarta-feira, 25 DE Fevereiro DE 2009

Ecologia e Socialismo

BRASIL DE FATO
12.02.2007

A proposta do Protocolo de Kyoto é absolutamente insuficiente para conter o aquecimento global e transforma o direito de poluir em mercadoria

Michael Löwy

Quando o tema é ecologia e socialismo, o primeiro a ser considerado é até que ponto a razão capitalista está levando o nosso pequeno planeta - e os seres vivos que o habitam - a uma situação catastrófica do ponto de vista do meio-ambiente, das condições de sobrevivência da vida humana e da vida em geral. Aproxima-se um desastre de proporções ainda incalculáveis e os sinais disso já são visíveis.

Atualmente estão se produzindo tempestades tropicais que já assolaram regiões dos Estados Unidos. Especialistas no tema acenam para a possibilidade de que esses desastres chamados naturais tenham relação com o aquecimento global do planeta e das águas oceânicas.

Os dramáticos resultados do desequilíbrio ecológico provocado pela lógica destrutiva da acumulação capitalista são agora evidentes, e os sofreremos ainda mais dentro de dois, dez, cinqüenta anos. Não é uma questão para ser resolvida dentro de um século, nem sequer para trinta anos, é para agora; portanto, requer uma urgente resposta política, ética e humana.

Como a oligarquia dominante está enfrentando estes problemas? Sua resposta é lamentável. Os setores ecologicamente mais avançados do capital internacional - a burguesia européia e outras, como os japoneses - chegaram a um acordo para encarar o problema que consideravam de maior urgência, que é o do efeito estufa: o chamado Protocolo de Kyoto.

Daqui a alguns anos, esse efeito estufa vai provocar o degelo nas zonas glaciais, com o que o nível do mar vai subir, inundando várias cidades costeiras. Este é um cenário bastante provável, e pode estar começando agora mesmo, com o exemplo mais conhecido da tragédia de Nova Orleans.

A resposta dos capitalistas mais conscientes, mais abertos à questão ecológica, se resume no Protocolo de Kyoto, que é absolutamente insuficiente. O Protocolo busca, eventualmente, estabilizar o efeito estufa para dentro de 10 ou 15 anos, com base num mecanismo absurdo chamado "mercado dos direitos de poluir". Os países mais ricos seguem poluindo o mundo, mas baseados na possibilidade de comprar dos países pobres o direito de poluir o que eles não utilizam. Transformam o direito de poluir em mercadoria. Deste modo, as nações continuam poluindo: tanto quanto podem ou estejam dispostos a pagar. Isso é o mais avançado que a elite dominante conseguiu produzir.

Esse acordo mínimo, vazio, falido, é perfeitamente incapaz de responder ao problema: os Estados Unidos, que são o país mais poluidor do mundo, se negam a assinar o Tratado de Kyoto e, enquanto isso, seguem desenvolvendo sua economia na lógica da destruição e da poluição.

O ecossocialismo

Necessitamos pensar em soluções radicais para esse problema. A solução de Kyoto é absolutamente insuficiente e rechaçada pelos Estados Unidos. Se vamos pensar em termos de soluções radicais, necessitamos pensar na questão do socialismo. Por isso, existe um movimento, uma idéia, um programa, que é o ecossocialismo.

O ecossocialismo parte de algumas idéias fundamentais de Marx sobre a lógica do capital e de alguns dos descobrimentos, avanços e conquistas científicas do movimento ecológico e da ciência ecológica. Marx não havia colocado ainda a questão da ecologia em sua análise porque, na sua época, a questão era muito pouco evidente. Mas ele afirma, em O Capital, que o sistema capitalista esgota as forças do trabalhador e as forças da Terra. Traça um paralelo entre o esgotamento do trabalhador e o esgotamento do planeta. Portanto, o desenvolvimento do capitalismo acaba com a natureza.

As atuais fontes de energia do capitalismo são nocivas e perigosas; o que é perigoso para o meio-ambiente, também o é para a humanidade: quer sejam as energias fósseis, em particular o petróleo que vai acabar dentro de algumas décadas - e se sabe matematicamente que vai acabar -, quer seja a energia atômica, que é uma falsa alternativa, pois o lixo nuclear é um problema gigantesco, muito perigoso, e que ninguém consegue resolver.

Então, a transformação revolucionária das forças produtivas passa pela questão das novas fontes de energia, pelas chamadas fontes de energia renováveis. No lugar do petróleo poluidor e da energia nuclear devastadora, necessita-se buscar energias renováveis, como a energia solar. Mas ela não interessa aos capitalistas, porque é gratuita, difícil de vender e não é mercadoria.

O capitalismo não se interessa pela energia solar, não investe em seu desenvolvimento. Obviamente, do ponto de vista socialista, é absolutamente prioritária a pesquisa científica e o desenvolvimento tecnológico da energia solar. Não é a única, mas, com certeza terá um papel central no processo de transformação radical do projeto ecossocialista.

Por isso, alguns velhos socialistas relacionam diretamente nossa utopia revolucionária, o socialismo, o comunismo, com o Sol, com a energia solar. Essa expressão de "comunismo solar" já aparece em alguns trabalhos de ecossocialistas. Haveria uma espécie de profunda afinidade entre a energia solar e o projeto comunista.

Os balanços negativos

Outro tema que deve ser examinado é o balanço negativo do que foi, a partir da visão ecológica, a experiência do chamado "socialismo real" da União Soviética e outros Estados burocráticos. Do ponto de vista da transformação do aparelho produtivo, que avançou muito pouco, os resultados foram enormes catástrofes ecológicas. Essa experiência é um caminho que nós não devemos seguir.

Outro balanço negativo é o do reformismo verde. Os partidos verdes que se formaram nos anos sessenta e setenta, no começo com certa perspectiva radical, terminaram quase todos, entrando em governos de centro-esquerda e convertendo-se ao social-liberalismo. As soluções que se requerem não passam por uma reforma ecológica aqui ou acolá; isso não resolve nenhum dos problemas. O balanço desse eco-reformismo verde é, portanto, bastante decepcionante.

Necessitamos levantar esta utopia revolucionária, essa possibilidade que é o ecossocialismo, que é o comunismo solar. A probabilidade de uma transformação radical da sociedade implica a expropriação do Capital. Mas, ficar apenas na expropriação dos capitalistas não enfrentará a questão do meio-ambiente.

A perspectiva ecológica, compreendida na sua radicalidade como a própria perspectiva socialista, implica a superação do capitalismo, a possibilidade de uma sociedade mais humana, justa, igualitária, democrática e capaz de estabelecer uma relação harmoniosa dos seres humanos entre si e com o meio-ambiente, com a natureza.

Não basta estabelecer este objetivo, essa utopia revolucionária. É preciso começar a construir esse futuro desde já. É necessário participar de todas as lutas, inclusive das mais modestas; como, por exemplo, a de uma comunidade que se defende contra uma empresa poluidora; ou a defesa de uma parte da natureza que esteja ameaçada por um projeto comercial destrutivo.

É importante ir construindo a relação entre as lutas sociais e as ambientais, pois elas tendem a concordar, unidas ao redor de objetivos comuns. Por exemplo, as comunidades indígenas ou camponesas que enfrentam as multinacionais desenvolvem um combate antiimperialista, mas também social e ecológico. A luta pelo transporte coletivo moderno e gratuito é um combate para avançar na solução do problema da poluição do ar. Conquistar uma rede de transporte público gratuito significa que a circulação de automóveis vai diminuir, que a poluição será menor, que o ar se tornará mais respirável.

Necessitamos perceber como, na prática, com essa perspectiva radical, as batalhas diárias vão se combinando, convergindo, articulando.

Hoje o ecossocialismo é não só trabalho de pensadores ou revistas especializadas, está presente nos movimentos sociais; mesmo que alguns deles não se chamem ecologistas ou socialistas, está presente no espírito, na radicalidade, na dinâmica dos movimentos sociais, em particular nas nações do Terceiro Mundo como a Índia, os países africanos e os latino-americanos.

Mas alguns ideólogos da ecologia colocam falsos problemas. Por exemplo, que a degradação do meio-ambiente é culpa de nosso consumismo, que cada um de nós consome muito, que é necessário reduzir o consumo para proteger o meio-ambiente. Isso responsabiliza os indivíduos e redime o sistema. É verdade que o consumo dos indivíduos é um problema, mas o consumo do sistema capitalista, do militarismo capitalista, da lógica de acumulação do capital, é muito maior.

Então, em vez de apregoar a autolimitação individual, é necessário chamar à organização para lutar contra o sistema capitalista; essa deve ser nossa resposta.

Outra visão equivocada é aquela que declara que a culpa é do ser humano, que mediante o antropocentrismo e o humanismo se pôs no centro e desprezou os outros seres vivos. Creio que esta concepção causa falsos problemas. Porque é do interesse da humanidade, da sobrevivência dos seres humanos, dos homens e das mulheres, preservar o meio do qual dependem inevitavelmente.

Não se trata de contrapor a sobrevivência humana à de outras espécies, trata-se de entender que elas são inseparáveis e que nossa sobrevivência como seres humanos depende da salvaguarda do equilíbrio ecológico e da diversidade das espécies; portanto, desde o ecossocialismo estaríamos falando de um humanismo biocentrista.

Michael Löwy é cientista social, leciona na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais da Universidad de Paris. É autor de As aventuras de Karl Marx contra o Barão de Münchhausen (Cortez Editora, 1998) e A estrela da manhã. Surrealismo e marxismo. (Civilização Brasileira, 2002), entre outras obras.

 

Fonte: Blog do Rogelio Casado

publicado por Rojo às 13:01
Terça-feira, 24 DE Fevereiro DE 2009

Debate: "Novas Barragens" (Porto, 28 de Fevereiro, 15:00)

quinta-feira 19 de Fevereiro de 2009.

 

Serão as novas barragens a construir ou em construção no Norte do país uma alternativa ambiental às alterações climáticas e garantia da independência energética nacional?

Ou antes uma agressão aos nossos rios e bacias hidrográficas e ao nosso património natural e paisagístico?

 

Venha debater connosco este tema de relevo para a região e para o país. No sábado 28 de Fevereiro às 15:00, na ESMAE - Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo (na Rua da Alegria, esquina com a Rampa da Escola Normal; metro Marquês ou Bolhão mais cerca de 10 minutos a pé; ou autocarros).

 

Solicita-se a todos os interessados que compareçam alguns minutos antes da hora marcada, única maneira de iniciar a sessão tão pontualmente quanto possível.

Como participação nas despesas, deverá ser deixado um contributo a partir de 1 euro por pessoa na mesa à entrada da sala onde decorrerá o debate, e que desde já se agradece.

Às 17:00, no mesmo local, reúne a Assembleia Geral da Campo Aberto, associação que promove o debate. Relativa a 2009, a AG analisará o relatório de actividades e contas de 2008 e irá eleger os novos órgãos sociais, incluindo uma direcção renovada, para o biénio 2009-11.

 

SOBRE O DEBATE

 

Se a Campo Aberto apoia a posição de rejeição do plano hidroeléctrico que prevê a construção das novas barragens em análise (ver http://www.lpn.pt/LPNPortal/userFiles/File/PR-Portuguese%20Dams%WWD%201%20DRAFT_Pt.pdf ) nem por isso ignora que são invocadas para o justificar razões ambientais que merecem debate. Para além da propaganda mais ou menos primária mas nem sempre como tal detectada, existem pessoas que, convictamente e de boa fé, aprovam as novas barragens ou alguma delas.

 

Sem abdicar do nosso ponto de vista, e com inteiro respeito por todos os interlocutores, quisemos ouvir as razões de uns e de outros, apostando no velho ditado segundo o qual «da discussão nasce a luz».

 

Paula Chainho, bióloga, vice-presidente da Liga para a Protecção da Natureza e integrante da Plataforma Sabor Livre que se tem oposto à barragem do Baixo Sabor, Rui Cortes, Professor na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e membro da Fundación Nueva Cultura del Agua, e António Regedor, Professor na Universidade Fernando Pessoa, ecologista activo há mais de 25 anos e favorável à barragem no Baixo Sabor, apresentarão as suas linhas de análise e avaliação, a partir das quais o debate será generalizado dentro das condicionantes do tempo disponível.

 

Organização: Campo Aberto - associação de defesa do ambiente

contacto@campoaberto.pt

www.campoaberto.pt

fax 229759592

Apartado 5052 4018-001 Porto

publicado por Rojo às 23:59
Terça-feira, 24 DE Fevereiro DE 2009

Chico Mendes: Um ecossocialista à frente do seu tempo

Carlos Walter Porto-Gonçalves; 6 de Novembro de 2008

 
Há 20 anos, Chico Mendes era assassinado; o legado do seringueiro e o seu sonho de uma sociedade que combinasse socialismo com ecologia continuam vivos.

Francisco Alves Mendes Filho nasceu no seringal Porto Rico no município de Xapuri em 15 de Dezembro de 1944, filho de pais nordestinos que migraram para a Amazónia.

Desde os 11 anos, trabalhou como seringueiro partilhando o destino comum àquelas famílias cujos filhos, em vez de irem à escola, trabalham para extrair o látex.

Chico Mendes teve a fortuna de encontrar aquele que seria o seu grande mestre, Fernando Euclides Távora, que não só lhe ensinou a ler e a escrever, mas o caminho que o levaria a se interessar pelos destinos do planeta e da humanidade.

Euclides Távora era um militante comunista que havia participado activamente no levante comunista de 1935 em Fortaleza e, ainda, na Revolução de 1952 na Bolívia. Retornando ao Brasil pelo Acre, Euclides Távora vai morar em Xapuri quando se torna mestre de Chico Mendes.

Chico Mendes sempre falava com grande carinho do seu grande mentor-educador-político que nunca mais veria desde o golpe ditatorial civil-militar de 1964.

 

 

EMPATES

 

A educação passou a ser uma verdadeira obsessão de Chico Mendes, a que ele dava um sentido político muito prático, pois acreditava que, sabendo ler e escrever, o seringueiro não mais seria roubado nas contas do barracão do patrão.

Em 1975, já militando nas Comunidades Eclesiais de Base – as Cebs – funda o primeiro sindicato de trabalhadores rurais no Acre, em Brasiléia, juntamente com o seu amigo Wilson Pinheiro.

Em Março de 1976, organiza juntamente com os seus companheiros, o primeiro Empate no Seringal Carmen. O Empate consistia na reunião de homens, mulheres e crianças, sob a liderança dos sindicatos, para impedir o desmatamento da floresta, prática que se tornaria emblemática da luta dos seringueiros.

Nos Empates, alertavam os “peões” ao serviço dos fazendeiros de gado, geralmente de fora do Acre, de que a derrubada da mata significava a expulsão de famílias de trabalhadores; convidava-os a associar-se à sua luta oferecendo “colocações” e “estradas” de seringa para trabalhar e, firmes, expulsava-os dos seus acampamentos de destruição impedindo o seu trabalho de derrubada da floresta.

Os Empates tiveram um papel decisivo na consolidação da identidade dos seringueiros, e essa forma de resistência acabou por chamar a atenção de todo o Brasil, sobretudo após o assassinato do seu amigo Wilson Pinheiro, em 21 de Julho de 1980.

Chico Mendes insistiu com os Empates mobilizando os seringueiros, mesmo depois de as autoridades governamentais, diante da repercussão da resistência dos seringueiros, terem começado a fazer projectos de colonização.

 

 

ARMADILHA

 

Chico Mendes, desde então, mostraria uma lúcida compreensão do significado daquela estratégia governamental que, inclusive, encontrava eco entre militantes sindicais, recusando-a, posto que levaria o seringueiro a deixar de ser seringueiro ao torná-lo um colono-agricultor confinado a 50 ou 100 hectares de terra.

Chico Mendes valorizava o modo de vida seringueiro que usava uma restrita pequena parcela de terra junto à casa para fazer o seu roçado e criar pequenos animais e fazia a colecta de frutos e resinas da floresta. Para os seringueiros, o objecto de trabalho não é a terra e, sim, a mata, a floresta. Assim, mais que hectare de terra, Chico Mendes e os seringueiros lutavam pela floresta, e foi essa firme convicção que o levou a gozar de apoio dos seus pares e aproximá-lo dos ecologistas, o que fazia com desconfiança, como não se cansou de manifestar a amigos.

Como comunista, Chico Mendes desconfiava não só dos ecologistas como também de uma série de movimentos sociais que começavam a destacar-se naqueles anos (mulheres, negros, homossexuais) que, acreditava, dividiam a luta dos trabalhadores.

Todavia, como homem prático e com grande capacidade de subordinar os princípios à vida sem perder o sentido da sua luta, Chico Mendes percebeu que os ecologistas, ao defenderem a floresta, eram aliados importantes da luta dos seringueiros na prática, além de permitirem que os seringueiros saíssem do isolamento a que estavam confinados.

 

 

ALIADOS

 

Os ecologistas, por seu lado, reconheceram a importância da luta dos seringueiros e dos seus Empates na preservação da floresta. Dessa aliança, Chico Mendes formulou um princípio que caracterizaria a sua filosofia, «Não há defesa da floresta sem os povos da floresta», que bem pode ser estendido a outras situações de defesa da natureza.

Chico Mendes percebeu que a luta dos seringueiros era uma luta de interesse da humanidade e, pouco a pouco, vai firmando a convicção de que, além da exploração dos trabalhadores, o capitalismo tinha uma voraz força destrutiva que havia de ser combatida.

Assim, Chico Mendes vai tornar-se um dos maiores próceres do ecossocialismo pela junção da luta contra a devastação com a luta contra a exploração e o capitalismo. Enfim, desenvolvia uma fina percepção holística, recusando tanto um sindicalismo como um ecologismo restritos.

Em 1984 num encontro nacional de trabalhadores rurais, Chico Mendes defende uma ousada proposta para a época, a de que a reforma agrária deveria respeitar os contextos sociais e culturais específicos e, um ano depois, ao fundar o Conselho Nacional dos Seringueiros em Brasília, já desenvolve juntamente com os seus companheiros a proposta de Reserva Extrativista, uma verdadeira revolução no conceito de unidade de conservação ambiental que, pela primeira vez, não mais separa o homem da natureza como até então se fazia.

Costumava dizer que a Reserva Extrativista era a reforma agrária dos seringueiros. A Reserva Extrativista consagra todos os princípios ideológicos que Chico Mendes propugnava, posto que, ao mesmo tempo que cada família detinha a prerrogativa de usufruto da sua colocação com a sua casa e com as suas estradas de seringa, a terra e a floresta eram de uso comum, podendo mesmo cada um caçar e colectar nos espaços entre as estradas de cada família, ideia comunitária inspirada nas reservas indígenas.

 

O Testamento de Chico Mendes, o seu ideal

 

SEGUNDO ASSASSINATO

 

Desde então, Chico Mendes empenha-se, juntamente com o seu amigo Ailton Krenak, na construção da Aliança dos Povos da Floresta, unindo indígenas e seringueiros, invertendo a história de massacres que até então protagonizaram instigados pelas grandes casas aviadoras e seringalistas do complexo de exploração de borracha.

Aqui, também, o profundo sentido humanístico não-antropocêntrico da ideologia de Chico Mendes ganhava sentido prático. Registre-se que a proposta da Reserva Extrativista contemplava, ainda, uma inovadora relação da sociedade com o Estado, na medida em que embora a propriedade formal da reserva extrativista seja do Estado, no caso, do então Ibama, a gestão da mesma é de responsabilidade da própria comunidade, cabendo ao órgão público supervisionar o cumprimento do contrato de concessão de direito de uso que, nesse sentido, é o pacto que se estabelece entre o Estado e os seringueiros. Ou seja, o notório saber dos seringueiros torna-se o elemento-chave da concessão do direito de uso que o Estado confere a eles.

Esse princípio viria a ser violentado no Sistema Nacional de Unidades de Conservação, aprovado no ano 2000 que, assim, deve ser considerado rigorosamente como o segundo assassinato de Chico Mendes, pois desconsidera o saber das populações tradicionais como a base de todo o direito que têm aos seus territórios, ao preconizar que todo o plano de manejo deve ser feito por técnicos. Temos aqui um belo exemplo da colonialidade do saber e do poder que, assim, desperdiça a riqueza da experiência humana materializada em múltiplas formas de conhecimento que a humanidade na sua diversidade inventou.

Em toda a sua vida, Chico Mendes jamais deixou de se dedicar à construção de instrumentos de lutas sociais e políticas, tendo sido dirigente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do Partido dos Trabalhadores (PT), assim como do Conselho Nacional dos Seringueiros.

 

 

SOCIALISMO COM ECOLOGIA

 

O legado político e moral de Chico Mendes é enorme e pode ser visto tanto pelos intelectuais que reconhecem a originalidade das suas ideias e práticas políticas, como pelos políticos que, tanto no seu Estado como no país, têm os seus cargos de vereador(a), deputada(o), governador, senador(a) e ministra(o) associados às lutas que protagonizou, embora devamos reconhecer que alguns dos seus companheiros no Acre prefiram falar de “governo da floresta” e não governo dos povos da floresta.

Tanto no Brasil como no mundo, o seu trabalho foi reconhecido: em 1987, recebe, em Londres, o Prémio Global 500 da ONU e, em Nova York, a Medalha da Sociedade para Um Mundo Melhor; já em 1988, foi condecorado com o título de Cidadão Honorário da cidade do Rio de Janeiro.

A sua enorme crença na capacidade humana de superar as contradições do mundo que vive organizando-se social e politicamente, foi capaz de inspirar todo um conjunto de ideias e práticas hoje em curso no mundo, que vê a natureza, com a sua produtividade e capacidade de auto-organização (neguentropia), e a criatividade humana, na sua diversidade cultural, como bases de uma racionalidade ambiental (Enrique Leff) ou, como ele gostava de chamar, de uma sociedade que combinasse socialismo com ecologia.

Em 22 de Dezembro de 1988, assassinos ligados à UDR (União Democrática Ruralista) pensaram calar com uma bala essa voz cuja força, tal como uma poronga [1], continua a iluminar caminhos.

[1] Poronga – Instrumento que os seringueiros carregam sobre a cabeça para iluminar os caminhos na mata quando saem, ainda de noite, para trabalhar. Chico Mendes chamou de “poronga” à cartilha que alfabetizava os seringueiros.

 

Fonte da reprodução: Informação Alternativa

 

Primeiro Manifesto Ecossocialista. Michael Lowy e Joel Kovel

 

Por Joel Kovel e Michael Lowy (Setembro 2001)

O século XXI se inicia com uma nota catastrófica, com um grau sem precedentes de desastres ecológicos e uma ordem mundial caótica, cercada por terror e focos de guerras localizadas e desintegradoras, que se espalham como uma gangrena pelos grandes troncos do planeta África Central, Oriente Médio, América do Sul e do Norte , ecoando por todas as nações.

Na nossa visão, as crises ecológicas e o colapso social estão profundamente relacionados e deveriam ser vistos como manifestações diferentes das mesmas forças estruturais. As primeiras derivam, de uma maneira geral, da industrialização massiva, que ultrapassou a capacidade da Terra absorver e conter a instabilidade ecológica. O segundo deriva da forma de imperialismo conhecida como globalização, com seus efeitos desintegradores sobre as sociedades que se colocam em seu caminho. Ainda, essas forças subjacentes são essencialmente diferentes aspectos do mesmo movimento, devendo ser identificadas como a dinâmica central que move o todo: a expansão do sistema capitalista mundial.

Rejeitamos todo tipo de eufemismos ou propaganda que suavizem a brutalidade do sistema: todo mascaramento de seus custos ecológicos, toda mistificação dos custos humanos sob os nomes de democracia e direitos humanos. Ao contrário, insistimos em enxergar o capital a partir daquilo que ele realmente fez.

Agindo sobre a natureza e seu equilíbrio ecológico, o sistema, com seu imperativo de expansão constante da lucratividade, expõe ecossistemas a poluentes desestabilizadores, fragmenta habitats que evoluíram milhões de anos de modo a permitir o surgimento de organismos, dilapida recursos, e reduz a vitalidade sensual da natureza às frias trocas necessárias à acumulação de capital.

Do lado da humanidade, com suas exigências de autodeterminação, comunidade e existência plena de sentido, o capital reduz a maioria das pessoas do mundo a mero reservatório de mão-de-obra, ao mesmo tempo em que descarta os considerados inúteis. O capital invadiu e minou a integridade das comunidades por meio de uma cultura de massas global de consumismo e despolitização. Ele expandiu as disparidades de riqueza e de poder em níveis sem precedentes na história. Trabalhou lado a lado com uma rede de Estados corruptos e subservientes, cujas elites locais, poupando o centro, executam o trabalho de repressão. O capital também colocou em funcionamento, sob a supervisão das potências ocidentais e da superpotência norte-americana, uma rede de organizações trans-estatais destinada a minar a autonomia da periferia, atando-a às suas dívidas enquanto mantém um enorme aparato militar que força a obediência ao centro capitalista.

Nós entendemos que o atual sistema capitalista não pode regular, muito menos superar, as crises que deflagrou. Ele não pode resolver a crise ecológica porque fazê-lo implica em colocar limites ao processo de acumulação uma opção inaceitável para um sistema baseado na regra “cresça ou morra!”. Tampouco ele pode resolver a crise posta pelo terror ou outras formas de rebelião violenta, porque fazê-lo significaria abandonar a lógica do império, impondo limites inaceitáveis ao crescimento e ao “estilo de vida” sustentado pelo império. Sua única opção é recorrer à força bruta, incrementando a alienação e semeando mais terrorismo e contra-terrorismo, gerando assim uma nova variante de fascismo.

Em suma, o sistema capitalista mundial está historicamente falido. Tornou-se um império incapaz de se adaptar, cujo gigantismo expõe sua fraqueza subjacente. O sistema capitalista mundial é, na linguagem da ecologia, profundamente insustentável e, para que haja futuro, deve ser fundamentalmente transformado ou substituído.

É dessa forma que retornamos à dura escolha apresentada por Rosa Luxemburgo: “Socialismo ou Barbárie!”, em que a face da última está impressa neste século que se inicia na forma de eco-catástrofe, terror e contra-terror e sua degeneração fascista.

Mas por que socialismo, por que reviver esta palavra aparentemente consignada ao lixo da história pelos equívocos de suas interpretações no século XX? Por uma única razão: embora castigada e não realizada, a noção de socialismo ainda permanece atual para a superação do capital. Se o capital deve ser superado, uma tarefa dada como urgente considerando a própria sobrevivência da civilização, o resultado será necessariamente “socialista”, pois esse é o termo que designa a passagem a uma sociedade pós-capitalista.

Se dizemos que o capital é radicalmente insustentável e se degenera em barbárie, delineada acima, então estamos também dizendo que precisamos construir um “socialismo” capaz de superar as crises que o capital iniciou. E se os “socialismos” do passado falharam nisso, é nosso dever, se escolhemos um fim outro que não a barbárie, lutar por um socialismo que triunfe. Da mesma forma que a barbárie mudou desde os tempos em que Rosa Luxemburgo enunciou sua profética alternativa, também o nome e a realidade do “socialismo” devem ser adequados aos tempos atuais.

É por essas razões que escolhemos nomear nossa interpretação de “socialismo” como um ecossocialismo, e nos dedicar à sua realização.

Por que Ecossocialismo?

Entendemos o ecossocialismo não como negação, mas como realização dos socialismos da “primeira época” do século vinte, no contexto da crise ecológica. Como seus antecessores, o ecossocialismo se baseia na visão de que capital é trabalho passado reificado, e se fortalece a partir do livre desenvolvimento de todos os produtores, ou em outras palavras, a partir da não separação entre produtores e meios de produção.

Entendemos que essa meta não teve sua implementação possível no socialismo da “primeira época”. As razões dessa impossibilidade são demasiadamente complexas para serem aqui rapidamente abordadas, cabendo, entretanto, mencionar os diversos efeitos do subdesenvolvimento no contexto de hostilidade por parte das potências capitalistas. Essa conjuntura teve efeitos nefastos sobre os socialismos existentes, principalmente no que ser refere à negação da democracia interna associada à apologia do produtivismo capitalista, o que conduziu ao colapso dessas sociedades e à ruína de seus ambientes naturais.

O ecossocialismo retém os objetivos emancipatórios do socialismo da “primeira época”, ao mesmo tempo em que rejeita tanto os objetivos reformistas da social-democracia quanto às estruturas produtivistas das variações burocráticas do socialismo. O ecossocialismo insiste em redefinir a trajetória e objetivo da produção socialista em um contexto ecológico. Ele o faz especificamente em relação aos “limites ao crescimento”, essencial para a sustentabilidade da sociedade. Isso sem, no entanto, impor escassez, sofrimento ou repressão à sociedade. O objetivo é a transformação das necessidades, uma profunda mudança de dimensão qualitativa, não quantitativa. Do ponto de vista da produção de mercadorias, isso se traduz em uma valorização dos valores de uso em detrimento dos valores de troca um projeto de relevância de longo prazo baseado na atividade econômica imediata.

A generalização da produção ecológica sob condições socialistas pode fornecer a base para superação das crises atuais. Uma sociedade de produtores livremente associados não cessa sua própria democratização. Ela deve insistir em libertar todos os seres humanos como seu objetivo e fundamento. Ela supera assim o impulso imperialista subjetiva e objetivamente. Ao realizar tal objetivo, essa sociedade luta para superar todas as formas de dominação, incluindo, especialmente, aquelas de gênero e raça. Ela supera as condições que conduzem a distorções fundamentalistas e suas manifestações terroristas. Em síntese, essa sociedade se coloca em harmonia ecológica com a natureza em um grau impensável sob as condições atuais.

Um resultado prático dessas tendências poderia se expressar, por exemplo, no desaparecimento da dependência de combustíveis fósseis característica do capitalismo industrial , que, por sua vez, poderia fornecer a base material para o resgate das terras subjugadas pelo imperialismo do petróleo, ao mesmo tempo em que possibilitaria a contenção do aquecimento global e de outras aflições da crise ecológica.

Ninguém pode ler estas recomendações sem pensar primeiro em quantas questões práticas e teóricas elas suscitam e, segundo e mais desesperançosamente, em quão remotas elas são em relação à atual configuração do mundo, tanto no que se refere ao que está baseado nas instituições quanto no que está registrado nas consciências. Não precisamos elaborar estes pontos, os quais deveriam ser instantaneamente reconhecidos por todos. Mas insistimos que eles devem ser tomados na perspectiva adequada. Nosso projeto não é nem detalhar cada passo deste caminho nem se render ao adversário devido à preponderância do poder que ostenta. Nosso projeto consiste em desenvolver a lógica de uma suficiente e necessária transformação da atual ordem e começar a dar os passos intermediários em direção a esse objetivo. O fazemos para pensar mais profundamente nessas possibilidades e, ao mesmo tempo, iniciar o trabalho de reunir aqueles de idéias semelhantes. Se existe algum mérito nesses argumentos, então ele precisa servir para que práticas e visões semelhantes germinem de maneira coordenada em diversos pontos do globo. O ecossocialismo será universal e internacional, ou não será. As crises de nosso tempo podem e devem ser vistas como oportunidades revolucionárias, e como tal temos o dever de afirmá-las e concretizá-las.

 

Fonte: EcosSocialistas

 

Instituto Chico Mendes

 

29 de Janeiro de 2009 

Movimentos Sociais fizeram homenagem a Chico Mendes no FORUM SOCIAL MUNDIAL, BELÉM DO PARÁ 2009

por Ana Rogéria* en Adital.com.br**

A Tenda dos 50 anos da Revolução Cubana, instalada na cidade do FSM 2009, na Universidade Federal do Pará, em Belém, sediou nesta manhã uma homenagem para aquele que é o maior símbolo da defesa de um modelo de economia sustentável para a Amazônia: Chico Mendes. Vinte anos depois de sua morte, a atividade mostrou que o legado deixado por ele continua vivo.

 

A ideia, segundo o poeta Pedro Tierra, um dos articuladores da atividade, foi reunir num mesmo espaço pessoas que conviveram com ele e pessoas que, de alguma forma, levam a luta de defesa da região adiante. Representantes do Conselho Nacional de Seringueiros, do Comitê Chico Mendes, lideranças indígenas e ativistas ambientais estavam presentes no evento.


"Num momento singular que as esquerdas do mundo vêm tecendo, construindo, Chico Mendes marca pela vida que teve, pelo significado que teve e pelo que tem a ver com a temática que será inevitavelmente abordada durante o fórum que é a questão da sustentabilidade ambiental", explicou Tierra. A atividade contou com o lançamento do livro "Vozes da Floresta" e da publicação com os anais da sessão solene do Congresso Nacional em homenagem ao líder seringueiro, assassinado em Xapuri, no estado do Acre, há 20 anos. A programação também contou com a leitura do poema "O grito verde que anda", de Pedro Tierra.


A homenagem se completou com o "Pentágono da Paz", onde em cada um dos vértices foi plantada uma muda de seringueira. As mudas foram plantadas por representantes dos continentes. "Com todo o significado que a palavra pentágono tem para a humanidade inteira, de morte, de guerra, de opressão dos povos, o nosso pentágono se contrapõem, fazendo referência à paz, à justiça", falou o poeta. As matérias do projeto "Ações pela Vida" são produzidas com o apoio do Fundo Nacional de Solidariedade da CF2008.

 

Fonte: De Igual a Igual

 

publicado por Rojo às 12:49

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