1 - Fracasso da velha tríade EUA-UE-Japão
A economia japonesa está em declínio acelerado desde 1990 e demonstra total incapacidade competir com a China para quem perde terreno enquanto potência económica, ano após ano. A zona Euro, principal pilar geopolítico da União europeia está à beira do desmembramento e colapso sob o peso de uma crise de dívida com uma gestão catastrófica. Os EUA e a sua máquina de imprimir dinheiro, a Federal Reserve, estão a esconder de forma eficaz a verdadeira situação financeira do país, postergando o calamitoso confronto com a realidade. Na frente externa os EUA vêem a sua dominância económica derreter perante o "aquecimento" da economia global guiado, doravante, inequivocamente pelos BRIC. A única frente em que os EUA ainda detêm alguma dominância é a militar-imperialista mas os fracassos das suas guerras e a perda de aliados chave (Egipto, Tunísia, Turquia, Yemen, Paquistão...) prossegue o seu caminho inexorável.
2 - Os BRIC tomando controlo da economia mundial
A China ultrapassou à cerca de um ano o Japão tomando o posto de segunda maior economia do mundo. O Brasil acaba de tomar o sexto lugar, ultrapassando o Reino Unido. A Rússia e a Índia mostram grandes taxas de crescimento enquanto que o eixo franco-alemão derrapa com a crise do Euro. Em todos os BRIC, os partidos comunistas assumem um grande protagonismo, a sua natureza marxista-leninista modificou-se e está em metamorfose. O Partido Comunista Chinês continua a dominar a mais poderosa potência emergente, mas o maoísmo deu lugar a um nacionalismo burguês. Contrariamente às declarações da burocracia chinesa a construção da China moderna não é a de um socialismo "de características chinesas", mas precisamente o contrário "um capitalismo de características chinesas". No Brasil um partido comunista que teve origem no maoísmo transformou-se num partido nacionalista de esquerda e é agora promovido a principal aliado dos nacionalistas burgueses do PT lulista. Na Rússia o PCFR é na verdade e na prática um partido nacionalista de esquerda por oposição ao nacionalismo burguês de Vladimir Putin. Na Índia o Partido Comunista da Índia (Marxista) lidera uma frente de esquerda que se notabiliza pela conjugação do marxismo com o nacionalismo de esquerda. Ultimamente os comunistas indianos têm sido penalizados pelas alianças com nacionalistas burgueses. Em todos os BRIC existem milhões que se afirmam simpatizantes (1/5 dos eleitores russos) e militantes comunistas (1 milhão de membros do PCIM), por vezes no poder nacional, regional ou local, ou por vezes na oposição a regimes vacilantes do nacionalismo burguês. Entre confrontos e alianças o nacionalismo burguês e o nacionalismo de esquerda parecem estar condenados à cooperação perante a velha tríade imperialista. Pelo menos, até ver...
3 - A guerra pelo petróleo na MONA (Médio Oriente e Norte de África)
A reposta popular às guerras de rapina imperial na MONA está a traduzir-se pela eleição de governos islâmicos. Na Tunísia e no Egipto constituem-se governos islâmicos do Partido do Renascimento (Tunísia) e do Partido da Justiça e Liberdade (Egipto), ambos com origem na Irmandade Muçulmana. No Líbano o governo é agora liderado pelo Hezbollah. Na Líbia o governo fantoche da NATO tem que partilhar o poder com forças militares do Grupo Combatente Islâmico Líbio (com origem na Irmandade Muçulmana). E nos actuais confrontos na Síria a Irmandade Muçulmana destaca-se como a força dominante nos opositores armados de Al-Assad. No Iémen, forças armadas xiitas no norte colaboram com um Partido Islâmico do Sul e o Movimento do Sul socialista no cerco ao regime de Saleh. No Barhain são forças xiitas próximas de Teerão que combatem o regime fantoche pro-Saudita. No Iraque o governo dominado pelos xiitas é já considerado sob a influência iraniana. E no Irão mantém se pedra e cal o regime revolucionário islâmico xiita. Em Marrocos crescem as forças islâmicas em torno do Partido da Justiça e Desenvolvimento. Na Turquia o partido islâmico AKP é uma referência no mundo islâmico e tem se distanciado do eixo EUA-Israel apesar de continuar a ser um membro da NATO. No Paquistão o governo nacionalista burguês e as suas forças armadas dominadas pelo islamismo romperam a aliança com os EUA-NATO enquanto no vizinho Afeganistão os islamitas Taliban ganham combates de importância estratégica.
5 - América Latina em retrocesso reaccionário
As guerrilhas revolucionárias da Colômbia travam duros combates só para não serem exterminadas. O governo da Venezuela traiu os movimentos revolucionários continentais. A aliança ALBA transformou-se numa mera ficção, com o golpe fascista em Honduras e o processo de capitulação venezuelana com a Colômbia. Cuba namorisca a "via chinesa" de nacionalismo burguês. Os governos de esquerda latino-americanos seguindo o mau exemplo da Venezuela transformam-se em meros nacionalistas burgueses e por vezes não chegam a ser sequer social-democratas. Das promessas de Socialismo de características "latino-americanas" e novo/original retrocede-se para um reformismo de direita tendente ao regresso do neoliberalismo. No Equador a guinada de Rafael Correa já é visível na sua coligação governativa e embates com movimentos sociais e de classe. Na Bolívia Evo ainda vive um estado de graça com ocasionais escaramuças com os movimentos sociais e de classe. Na Nicarágua e em El Salvador as antigas guerrilhas revolucionárias agora no poder estão manietadas pelas duas faces da capitulação entreguista: reformismo e corrupção.
6 - Crise do Euro
A Grécia e a Irlanda já admitem oficialmente a possibilidade de sair do Euro. A fortaleza económica europeia treme à beira do precipício.