Camilo Torres (reportagem TeleSUR)
TeleSUR _ 19/02/2009
"Onde caiu Camilo nasceu uma cruz,
porém não de madeira, e sim de luz".
(Victor Jará)"Não deporei as armas enquanto o poder
não estiver totalmente nas mãos do povo".
(Camilo Torres)
"Camilo Torres está vigente", realça o sociólogo Eduardo Cortez Barrero, em entrevista exclusiva para a equipa do Site da TeleSUR, comentou que na sua juventude era um dirigente estudantil venezuelano e viajou para a Colômbia para conhecer as revoluções que ali se originavam, e assim conhecer de perto as lutas revolucionárias.
"Tive a oportunidade de conhecer a liderança de Camilo, durante uma visita a Bogotá, nas lutas dos anos 60 - 70, quando se abre todo um movimento nos povos deste continente na busca da libertação nacional e contra a oligarquía", recordou Cortez.
"Ele me convidou a caminhar por umas ruas de Bogotá e ali é onde eu entendo perfeitamente a liderança de Camilo, porque saímos oito ou nove pessoas com ele a acompanhá-lo, por uma avenida muito conhecida de Bogotá que se chama a Carreira Séptima…Caminhamos pela Carreira Sétima e quando demos conta, tinhamos gente detrás e gente adiante, o saudando, aproximavam-se dele e ele tinha que improvisar comícios e parar para fazer os seus discursos", narrou.
Camilo Torres, nasceu em Bogotá o três de Fevereiro de 1929, cumprindo-se hoje (3/02/2009) 80 anos do seu nascimento. A Biblioteca Nacional da Venezuela realizou uma homenagem, a quem se converteu num dos líderes mais seguidos na Colômbia, personagem que uma vez dentro da revolução, jamais deixou perder a sua essência de religioso.
Uma vez que se ordena sacerdote em 1954, sai com a sua batina, não só a pregar o evangelho, mas também a estudar e converter-se num cientista social. Desta maneira faz-se conhecedor da realidade histórica e contemporânea de seu país, e assim se incorpora à vida política nacional. Foi então quando pendurou a batina e tomou uma arma, sem abandonar seu espírito cristão.
Lutas de Camilo
Em 1965 Camilo Torres cria o movimento Frente Unido em sua terra natal Bogotá, o que correspondia à oposição à Frente Nacional que constituíram os liberais e conservadores para alternar-se no poder.
Para fazer da sua criação um verdadeiro suporte político, incorpora-se à luta armada, obrigado em parte pelas inumeráveis ameaças contra a sua vida e ideais, no entanto, sempre manteve a promessa de abandonar os fuzis quando o povo estivesse de forma definitiva no poder, o que ainda não ocorreu.
"Era seguido pela gente em todos os lugares, isto é, era um líder e isso é precisamente o que fez com que o seu inimigo, a oligarquia colombiana criminosa, não lhe permitisse que ele abrisse um espaço pela via legal e ante as ameaças e a perspectiva do assassinarem se vai à luta armada", detalhou, em declarações à página do Site da TeleSUR, quem em vida o conheceu, Eduardo Cortez Barrero, um dirigente estudantil venezuelano dos anos 60 e que na actualidade desempenha funções de sociólogo.
Quando ingressa no Exército de Libertação Nacional "ele disse que não ia ser uma figura decorativa, é então que vai a uma acção militar em Santander do Tuy e ali morre", especificou Cortez.
Nessa batalha que teve com o Exército regular colombiano perdeu a sua vida, porque, ainda que a Frente Unida tenha triunfado, em Camilo Torres prevaleceu a sua condição de sacerdote e ao escutar os muitos homens em seu leito de morte dentro do campo onde se deram os confrontos, regressou para dar àquelas almas o Sacramento da Unção dos Doentes, e é nesse momento que foi surpreendido pela morte.
Por sua vez, o precursor da homenagem, Wolfang Vincent, geógrafo e crítico literário, quando iniciou a actividade baseada em comemorar os 80 anos do nascimento de Camilo Torres, expressou que "a liberdade da Colômbia está unida à liberdade da Venezuela, e nessas lutas Camilo foi muito representativo e protagónico, deixou tudo para batallar pelos demais".
A Colômbia de Camilo
Fome, doenças, injustiças e enquistamiento da oligarquia constituíam as principais características da Colômbia em que viveu Camilo Torres (1929 – 1966).
Um estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), realizado no ano de 2002, assinalava que "a Colômbia se encontra desde há 20 anos numa situação à beira da guerra civil onde se enfrentam tropas militares, grupos armados da guerrilha, paramilitares e os narcotraficantes".
No tempo em que viveu Camilo Torres, começaram a surgir na nação os movimentos revolucionários, que se opunham a que o povo padecesse de tanta miséria.
Nos anos 60 aparecem grupos guerrilheiros de esquerda, em 1964, nascem as Forças Armadas Revolucionárias de Colômbia (FARC) e o 1965 cria-se o Exército de Libertação Nacional (ELN)
Além disso a investigação do PNUD fala de uma violência crescente na qual os civis são as primeiras vítimas: sequestros em massa, atentados, assassinatos, ameaças de morte. Tudo o citado, originou a deslocação de milhões de pessoas que abandonaram os seus lugares de nascimento, tal como refere o citado estudo.
A teologia da libertação
Camilo Torres como cientista social, traz à realidade aqueles ensinos de Tomás de Aquino, o teólogo por excelência.
Segundo falla a "História da Filosofia, Noesis", a teologia propõe que a figura de Deus não deve permanecer em ideais, senão que é prioridade demonstrar durante a sua existência.
Aquino como teólogo, baseia os seus estudos na "preocupação intelectual e didáctica ancorada à sistematização e exposição da doutrina cristã sobre Deus".
Neste sentido, Camilo Torres não se conforma com difundir a doutrina do cristianismo, como também tenta levar a cabo um cristianismo democrático.
"Camilo Torres representa a teologia da libertação. Uma linha de sacerdotes que querem fazer desse sacerdocio uma militância para a libertação", disse em seu discurso o Director da Biblioteca Nacional da Venezuela, Ignacio Barreto, em uma homenagem que fez ao líder colombiano na citada instituição.
Se uma das premissas teológicas estabelece que "a sociedade é o meio comum que tem a humanidade para chegar a seu fim último", para Camilo Torres, esse fim último era a libertação.
O autor Roger Smalling, definiu à teologia da libertação como "um movimento que anuncia a necessidade da participação cristã nos processos sociais, na libertação das classes baixas oprimidas económica e politicamente. Afirma a validade de qualquer meio para atingir esta libertação. Inclusive recomenda o conflito armado, como necessário, se todos os meios pacíficos fracassarem".
Nessa doutrina se enquadrou Torres e muitos outros líderes latinoamericanos. As lutas daqueles revolucionários, como Sandino na Nicarágua, Martin Luther King nos Estados Unidos, o Che Guevara e outros destacados que perderam as suas vidas pela defesa dos direitos dos mais desfavorecidos historicamente, fazem-se presentes na actualidade.
"A luta deles não foi estéril, pois hoje a estamos a viveer em uma realidade, em todo este continente, na Argentina com a Cristina Kirncher, na Venezuela com Hugo Chávez, no Brasil com Lula , na Bolívia com Evo Morais, no Equador com Correa e seguirão se estendendo a cada vez mais Governos soberanos", destacou.
Luinés Daniela Sánchez
Fonte: TeleSUR