A Evolução do Ser Humano: da propriedade à sociedade, da energia ao meio ambiente

Podemos dividir toda a história humana até hoje em 3 grandes fases:

 

- O Homem Caçador-Colector

- O Homem Agrícola

- O Homem Industrial

 

Dentro destas fases existem evidentemente sub-fases, ao analisarmos por exemplo a estrutura de classes mais recente (dentro da era Industrial em que estamos) poderíamos revelar o Homem Financeiro (que está hoje na ordem do dia) e o Homem Tecnológico (que nunca foi muito mais do que uma ilusão cultural).

 

O Homem das Cavernas

 

Segundo os cientistas, a caça e a colecta de plantas como forma de subsistência do ser humano durou mais de 2 milhões de anos da história humana. Ao princípio a Humanidade, na fase do Caçador-Colector, não possuía estrutura de classes, isto acontecia porque a propriedade era vista como comum. A natureza era a fonte de recursos que era partilhada por todos. Mas não se tratava propriamente de um paraíso, quando os recursos eram escassos os humanos poderiam lutar até à morte inclusive. É também certo que haveriam lutas sangrentas quando dois homens escolhiam a mesma mulher para acasalar. No entanto essa violência era apenas ocasional e não sistemática.

 

 

A energia foi descoberta primeiramente pelo Caçador-Colector sobre a forma de fogo, que era usada como protecção, arma de caça ou para cozinhar alimentos. Mas o seu uso era perfeitamente integrado no que poderíamos chamar "a ordem natural das coisas" - que neste contexto significa o enquadramento com as normas que regem os ecossistemas terrestres.

 

O registo mais antigo do Homem moderno que é o Homo Sapiens Sapiens é de há 130.000 anos atrás, o antepassado Neandertal do Homo Sapiens extinguiu-se há 30.000 anos. Antes portanto da Era Agrícola. O Homo Sapiens, dizem os cientistas, é produto de uma longa evolução humana (que segundo Darwin descendeu dos símios).

 

Em esquema: o Homem não domina a Natureza, mas antes colhe dela o que precisa para existir.

 

O Feudalismo

 

Há pelo menos 10.000 anos atrás (8000 A.C.) a Agricultura começou a ser desenvolvida. Inicialmente ela começou por ser um método de "enterrar sementes" por parte dos Caçadores-Colectores de modo a poderem evitar a vida de nómadas e acomodar-se numa região menos vasta. No início era apenas uma inovação por comodidade mas com o tempo tornou se no pilar do que chamamos "civilização" - uma sociedade humana organizada e complexa que transcende as relações sociais consideradas de "primitivas" do Caçador-Colector (tais como de "tribo", de "clã", etc., mais ou menos parecidas com as do restante mundo animal).

 

 

Da nova "civilização agrícola" nasceu um sistema económico de dominação de uma elite de humanos sobre a maioria dos humanos (designados como a "plebe", os "servos, os "escravos", etc.). E do sistema económico Feudal nasceram sistemas políticos, como Monarquias, Impérios e até os primeiros esboços (embora tímidos e em curtos períodos) de República e Democracia reservados a um uso exclusivo das elites e com o tempo incorporando algum poder de voto a sectores de classes intermédias.

 

A energia que alimentou o Homem Agrícola foi usada pelas elites feudais para cimentar e expandir o seu poder. Essa energia eram em primeiro lugar os grãos de cereais que aumentavam a força muscular humana e as outras capacidades físicas humanas, mas também o gado, o peixe, o vinho, hortaliças e frutas que desenvolveram as capacidades do ser humano. Esse ser humano reforçado, mais forte e capaz era usado pela elite feudal para fazer guerras que colocavam estas elites de nações (ancoradas por norma num regime monárquico ou imperial) umas contra as outras em busca de acumular mais e mais recursos e riquezas, que por sua vez serviam para fortalecer o controle das elites sobre a sociedade e os seus estilos de vida luxuosos.

 

A escravatura foi se tornando mais e mais comum nos regimes feudais à medida que estes cresceram em controle de vastos territórios e em poder militar. Um destes regimes que serve como paradigma da sociedade com classes até hoje foi o Império Romano.

 

 

Eu creio que se pode afirmar que quase todas as nações da Era do Homem Agrícola evoluíram ou tentaram evoluir para um Império ou pelo menos se pode dizer que durante esses milénios anteriores à Era Industrial a principal medida de sucesso de uma sociedade era a extensão imperial, ou seja, a conquista de novos territórios (incluindo recursos naturais e povos subjugados pelo domínio de Elites imperiais).

 

 

O Império Romano serviu para dominar toda a Europa e partes da África, da Ásia e do Leste Europeu. O Império Romano entrou em colapso, mas logo apareceram novos herdeiros continuadores. Na chamada "idade média" diversos países - entre os quais se destacam Portugal, Espanha, Inglaterra, França e Holanda - se ergueram para dominar imperialmente o chamado "Novo Mundo" (todas as Américas, do Sul, Central, Caraíbas e do Norte), toda a África e partes da Ásia. A religião católica, as formas de organização política e o expansionismo militar foram incorporadas pelas nações surgidas da desagregação do Império Romano.

 

Na Europa, no período pós-romano, o Clero tornou-se uma poderosa classe dominante associada à Nobreza e à Família Real (todos os últimos dominando o Exército Real que desenvolvia a expansão imperial). A religião hierarquizada servia de controle social e cultural facilitando o trabalho de dominação dos seus sócios imperiais monárquicos e afins.

 

Existiram muitos e imensos Impérios na Era Agrícola, como a Dinastia Omíada (o maior Império dos Califas, árabes islâmicos), o Império do Mongol, o Império Russo, o Império Otomano, os Impérios de Espanha e Portugal, o Império Britânico (que teve uma origem anterior à Revolução Industrial) e outros.

 

As contínuas guerras imperiais criaram novas necessidades de refinamento de armas e estratégias bélicas. Assim surgiram os artesãos. Da necessidade de extrair um maior proveito da espoliação imperial surgiu o comércio e a ascendente burguesia mercantil. E destes reordenamentos de classes surgiram as condições para acabar com as monarquias absolutistas e depois com as liberais, ambas cobertas de sinais de decadência imperial. O comércio, aparentemente, havia se tornado uma forma de dominação mais poderosa do que a força bélica.

 

 

Em esquema: o Homem domina a Natureza, a Elite usa o Homem reforçado para consolidar e expandir o seu poder sobre a Natureza e sobre o próprio Homem.

 

A Era Industrial dos Combustíveis Fósseis

 

A Revolução Industrial vem trazer a base de sustentação económica da expansão do domínio burguês - a nova classe dominante pós-feudal - até estender-se a todo o mundo, fundamentalmente a partir do Século XIX. As origens da Revolução Industrial surgem no alvorecer do Século XVIII com a invenção da Máquina a Vapor que transforma o Carvão numa fonte energética (muito abundante até aos dias de hoje) dinamizadora da criação de vastas indústrias.

 

O advento da Indústria enfraquece e domina o anterior pilar de domínio que era a Agricultura. Os senhores feudais são subordinados à força da burguesia, rebaptizada de capital. A necessidade de subordinar as anteriores classes dominates levou a Burguesia a, inicialmente, adoptar uma postura laica e anti-clerical. Isso deu liberdade a proeminentes intelectuais burgueses enveredarem por ideiais nitidamente progressistas, algo que a Burguesia não permitira que fosse muito longe. Não tardou pois então que a Burguesia perseguisse os seus próprios defensores intelectuais.

 

A Máquina (refiro-me às máquinas em geral) tornou-se uma nova fonte de riqueza aparentemente infindável e foi se esquecendo com o  tempo o facto elementar que a Máquina não seria mais que uma carcaça vazia se não fosse alimentada por abundantes Combustíveis Fóssseis - por natureza finitos. Ela estendeu o seu poder a todos os sectores de actividade, com a mecanização da Agricultura, por exemplo, submetendo os seus anteriores rivais da manufactura (como o nome indica, falo do trabalho braçal humano).

 

A mecanização das actividades humanas foi pavimentando o poder da Burguesia, cimentando o seu controle sobre a sociedade, fortalecendo a sua estrutura económica, transformando o regime político ao sabor de seus interesses e penetrando na própria cultura humana para moldar o pensamento e os sonhos das classes exploradas ou dominadas.

 

A partir do fulgor inicial das ideias progressistas da Revolução Francesa e da precepção que a nova prosperidade mecanizada daria riqueza suficiente para acomodar um conforto material a toda a sociedade, incluindo a classe exploradora (Burguesia) e a explorada (Trabalhadores) surgiram revoltas de Trabalhadores e de Povos que levaram a cedências sem precendentes na história humana das elites às classes dominadas. A publicação do "Manifesto do Partido Comunista" em 1848, a Revolução de Outubro de 1917 e as subsequentes, os julgamentos de Nuremberga entre outros efeitos da Segunga Guerra Mundial, o advento da Organização das Nações Unidas em 1945, a Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948, entre outros acontecimentos - particularmente entre esse período de 1850 a 1950 - elevaram os direitos, liberdades e garantias das classes exploradas mas fizeram também subir as suas expectativas.

 

Uma vez que o controle coercivo por parte das elites sobre as sociedades foi relaxado com as conquistas sociais dos explorados (a democratização generalizada, aumentos dos níveis de vida, de saúde, etc.) a atenção do Homem Industrial virou-se para o consumo de produtos como forma de atingir o bem-estar. O Capitalismo esforçou-se por convencer e conseguiu convencer grande parte da humanidade a enveredar por este estilo de vida - o consumo crescente de produtos como um modo de vida, a identificação do consumidor com o produto, etc.

 

Em esquema: o Homem domina a Natureza, a Elite usa o Homem reforçado para alimentar a Máquina, a Máquina domina o Homem e com o tempo a própria Elite.

 

O Futuro

 

Todos os principais combustíveis fósseis estão, segundo os cientistas, prestes a esgotar durante o actual Século XXI, a manterem-se as actuais taxas de consumo.

 

O mesmo se poderá aplicar a todo o tipo de matérias-primas, incluindo as tão vitais como a Água e o Solo Cultivável, mais cedo ou mais tarde, se se continuar com os actuais ritmos insustentáveis de consumismo, produtivismo e destruição ambiental.

 

Vivemos num mundo finito, temos de nos habituar a essa ideia.

 

Em esquema: a Natureza mostra os seus limites e primeiro a Máquina, depois a Elite e depois o Homem entram em Colapso.

publicado por Rojo às 02:00